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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Caminhos do Campo

Caminhos do Campo
Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Em 2010, foram conservadas 235 minas, número que deve dobrar a partir de agora
Ambiente
Guardiões de nascentes
Com remuneração mensal, agricultores tomam à frente na proteção das águas dos rios Pirapó e Tibagi
Publicado em 25/01/2011 | José Rocher
Fotos: Marcelo Elias/Gazeta do Povo
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Casebre encobre a mina onde nasce o Rio Pirapó, no Centro de Apucarana. A água está limpa apesar da falta de vegetação, afirma o coordenador do projeto Oásis, Satio Kayukawa
Em discussão, quanto vale uma mina d’água preservada
Para os agricultores que estão recebendo para preservar as nascentes de Apuracana, cada mina vale R$ 100 por mês. Se plantassem soja no local, poderiam ultrapassar esse valor em 10% vendendo a produção a R$ 45 a saca (60 kg). Quem planta café, teria renda bem maior. Uma única saca de grão rende de R$ 250 a R$ 300 na região.
As comparações são grosseiras, por não considerarem custos e porque a área de preservação legalmente não poderia ser usada na agricultura. Mas, é a partir daí que os produtores discutem quanto vale uma nascente. Para quem precisa aproveitar cada centímetro de terra para tornar a propriedade viável, viver cercado de fontes naturais é motivo de lamentação.
O pagamento pelo serviço de preservação mudou esse quadro. Não que os produtores tenham se tornado ambientalista irredutíveis. Mas agora, enquanto falam do programa de compensação, se detêm nos interesses da coletividade e mostram satisfação por estarem preservando a natureza. Questões de valor menos matemático.
“Quando chove, vira um mundaréu de água. Compensa preservar porque a gente ocupa a água, para o gado, para beber. Só aqui perto, têm 12 famílias que bebem essa água”, afirma Paulo Fenato, produtor de café. Ele é um dos que mais recebem compensação por serviço ambiental. Sua área de 39 hectares possui dez minas. O programa Oásis remunera a preservação de, no máximo, sete. Ele conta proteger todas e ganhar R$ 562 por mês. Para cumprir a legislação ambiental, não pode cultivar cerca de 15 hectares (38% da propriedade).
A família de Mauro Carlos de Assis comprou, na década de 70, área de 2,4 hectares encostada da cidade de Apucarana. As oito minas que existem no terreno elevaram o preço do imóvel na época. Hoje, porém, tornam a chácara aproveitável apenas para moradia, reclama o ex-ferroviário. Assis chegou a criar vacas de leite no local, mas atualmente só cultiva verduras, para garantir o recebimento de R$ 580 por mês pelo projeto Oásis. O terreno se tornou um mosaico de área de preservação e canteiros. Ainda em recomposição, as áreas em volta das nascentes estão virando matagais. “O jeito é seguir a lei e aderir ao projeto para não ficar só no prejuízo”, afirma. “Para mim, a vantagem é morar no mato, praticamente no meio da cidade.”
Com 8,3 hectares, Valto Amadeu tem apenas 5 ha livres para plantio. Ele dedica a área ao café e trabalha com aviário de 10 mil frangos. A renda do grão é anual e a da avicultura chega a cada dois meses. Dinheiro mensal, só os R$ 128 do projeto Oásis. “Dá quase para pagar a conta da luz elétrica”, relata. Em sua avaliação, o valor de uma mina é maior para a cidade do que para quem trabalha no campo e, por isso, destinar 1% da conta da água à preservação não representa um investimento caro para ninguém. “É melhor uma torneira pingando do que uma torneira seca.” (JR)
Bem longe das regiões que enfrentam tragédias por excesso de chuva em áreas devastadas, Apucarana (Norte do Paraná) reforça a preservação de reservas ambientais, encostas de morro e, sobretudo, nascentes de água. O projeto Oásis, que remunera com até R$ 580 por mês (R$ 7 mil ao ano) os agricultores em dia com a legislação ambiental, será ampliado nesta quarta-feira. De 64, o número de beneficiados passa para 133, um ano após os primeiros repasses. Além da bacia do Pira pó, que abastece Maringá (70% da população), serão protegidas nascentes do Tibagi, fonte de água para Londrina e Cambe (54%).
Trata-se da primeira experiência com remuneração mensal a agricultores que guardam o ambiente no estado. Para entrar no programa, eles têm de averbar 20% de suas áreas como reserva florestal, além de conservar o verde num raio de 50 metros em volta de qualquer nascente. Ao todo, 235 minas vêm sendo conservadas. Cuidados extras como tratamento de esgoto ou plantio de árvores nativas ampliam a cota de cada propriedade.
O valor que os cadastrados recebem depende do número de minas de água preservadas. Boa parte recebe apenas R$ 70 ao mês, com uma única nascente. O dinheiro sai do Fundo Municipal do Meio Ambiente, para onde a Sanepar destina 1% da arrecadação local.
“Na última vez que renovamos contrato com a Sanepar, conseguimos 1% da arrecadação para o projeto”, relata o ex-ativista do Green Peace e secretário de Meio Am¬¬biente de Apucarana, João Batista Bel trame. A empresa espera que a preservação reduza o custo do tratamento da água na região, dispensando aumento na tarifa paga pela população urbana.
O projeto é uma adaptação do Oásis que a Fundação Boticário lançou em São Paulo em 2006. Por lá, são beneficiados 13 proprietários com áreas que somam 82 mil hectares (metade com florestas). Os debates preliminares, que se estenderam por três anos no estado vizinho, duraram seis meses em Apucarana, relata o analista de projetos da entidade, Carlos Krieck. O difícil teria sido estabelecer critérios de remuneração e garantir fonte regular de recursos. A área protegida em Apucarana soma 600 hectares de florestas, R$ 280 mil em 2011.
Para a diretora-executiva da Fundação, Malu Nunes, a iniciativa tende a se alastrar. “Partimos da experiência de Nova York, que traz economia no tratamento da água. Agora, o Oásis está inspirando outros projetos.” Londrina, Maringá e outros municípios da região buscam referências em Apucarana e discutem legislação própria para repasse de recursos públicos a particulares.
Em Apucarana, o cadastramento dos produtores e a aplicação do sistema de pontuação são tarefas da prefeitura. O administrador Satio Kayukawa, coordenador do Oásis, visita cada propriedade antes de sua aprovação. O projeto ainda está sendo aperfeiçoado. A partir de agora, os produtores terão de construir mureta de proteção das nascentes. “Vamos também pontuar a destinação correta dos resíduos”, afirma o secretário do Meio Ambiente.

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